segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

O desejo por uma nação

                          Acredito que tenha sido na biblioteca onde eu escutei a noticia que mudaria minha vida. Acostumava-me ir lá, único lugar calmo em todo castelo de Breine, um paraíso para gente como eu, além disso os idiotas geralmente não apreciam o habito da leitura. Tudo era perfeito dentro das paginas, mesmo as intrigas e mortes eram controladas, iam de acordo com um determinado enredo, dentro de um determinado plano do autor. Se você para pra pensar as pessoas também são assim, cheias de planos e suas personalidades estabelecem um enredo para realizarem um desejo.

                            De qualquer forma, um serviçal bateu na porta avisando que o momento chegara. Eu temia por aquilo por muito tempo, na época eu deveria ter meus dez ano, um garoto com medo suficiente de perder a mãe. Meu pai havia sido assassinado quando eu tinha cinco, foi realmente uma manhã de horrores, minha queria progenitora acorda com seu marido ensanguentado e sua garganta havia uma entrada de tamanho considerável. As lembranças que tenho dele não são agradáveis então agradeço de não te-lo por perto.

                           Vi-me correndo entre os corredores daquele maldito castelo, odiava cada bloco dali, sua nobreza de porcos e seu rei espantalho.  Tudo era tão longe e naquele dia cada passo parecia me levar em uma direção oposta. Eles não deixaram que eu ficasse com ela ali no fim, só quando a "hora" chegasse, e isso me irrita até hoje, quem são eles para definirem para onde eu irei e com quem devo ficar. Eu sabia o que era morte, já a presenciei mais do que qualquer um ali. As pessoas me acompanhavam com o olhar enquanto eu subia as escadas, malditos esnobes, suas cabeças ainda serão minha.

                         Minha mãe estava no terceiro andar, os curandeiros a visitavam com certa frequência e suas "amigas" sempre estavam lá como parasitas. Abri a porta e lá estava ela, linda como a chuva, e pálida como mármore, deitada em sua cama com um homem de pé segurando incenso, balançando para lá e para cá, um ritual para que ela fosse em paz, francamente até os dias de hoje acho isso ridículo. Sentada na beirada da cama estava Stefie, a princesa de toda Thidien. Tínhamos uma certa ligação, nessa época ela devia ter seus dezesseis anos e sempre procurava mihna mãe por conselhos e para fofocarem.

                       Stefie me olhou com tristeza quando entrei no quarto, ela já me esperava e até os dias de hoje acredito que tudo nela naquele dia foi ensaiado. Éramos amigos até certo ponto, ela me tratava como se fosse uma criança e eu a tratava como se fosse uma fada, no fundo sempre levei esse nosso relacionamento como uma batalha, talvez por muito tempo ela tenha me levado pouco a serio. Me aproximei da cama, ignorei as outras pessoas da sala que não tivessem dado a luz a mim. Eu queria chorar, mostrar para minha mãe que eu me importava com ela, mas nunca demonstraria fraqueza para aquelas pessoas ali, meu arrependimento por isso me corroí até meus dias atuais. 

            - Minha queria mãe - Disse tentando parecer afável, mas tentando não deixar minha voz falhar - Estou aqui para a senhora.

                    Ela tossiu um pouco, enquanto segurava o lenço em sua boca pude perceber que o sangue impregnava até mesmo o tecido dos lençóis. Stefie levantou-se para ajudar minha mãe.

                       - Alandra - Disse Stefie, sua voz era doce como o canto de uma sereia - você deseja mais um Apalzo?

                      - Não minha querida - respondeu minha mãe quase inaudível  - Meu melhor remédio já esta aqui.
                    
                         - Estou minha queria mãe - respondi sem tirar os  olhos dela.
     
                         - Ela continua muito teimosa Janus - Disse Stefie - Mesmo assim sua atitude é de uma verdadeira rainha.

                    Pude sentir o veneno em suas palavras, a grandiosa princesa sempre fora assim uma voz gentil, um rosto angelical, mas sempre que tecia elogios a mim ou a minha mãe um pouco de escárnio escorria por suas presas. Eu sinceramente já estava farto daquele teatro, aquela pompa podia servi para ela, mas para mim, naquele momento o que mais importava era minha mão.

                         - Ele sempre será mais do que isso - respondi trocando piscadelas com minha mãe, nosso pequeno código - ela é uma deusa diante de mortais que não compreendem sua beleza ou inteligência.
                         
                            - Meu querido Janus - Disse minha mãe debilmente - gostaria de lhe pedir um favor...cof antes que minhas forças me deixem.

                            - Não fale assim mãe, ainda tens muito há viver.

                            - Deixe a falar - disse Stefie, como se ansiasse por aquilo - Pequeno tigre.

                        Odiava aquele apelido, basicamente todo castelo rira de mim no dia que meu querido pai tinha voltado de uma campanha com um "presente", um tigre capturado em terras longínquas. Fui colocado próximo a jaula da besta por um bom tempo, sendo segurado pelo pescoço, sendo erguido do chão, enquanto chorava, berrava e me debatia para sair dali o tigre tentava me agarrar com suas garras e presas. Até hoje me lembro nitidamente daquele olhar, feroz, brutal, puro. Com o tempo virei o pequeno tigre, uma forma de caçoarem de minhas fraquezas.    

                              - Meu garoto....cof - continuou Alandra - você será responsabilidade da coroa agora meu garoto maravilhoso.

                           -O que! - Aquilo realmente não era minha mãe falando, odiávamos a coroa

                           - Esta tudo bem - disse ela me olhando firmemente - As coisas vão dar certo.

                    Me afastei, me imaginei naquele cenário. Participar daquela corte, sentir o escárnio todos os dias, ter de bajular para conseguir o que eu quero. Não, eu preferia fugir, o ouro de minha família nunca seria deles, derrubaria aquele castelo inteiro, tijolo por tijolo antes de ver um centavo meu com eles.

                           -  Janus, meu maravilhoso filho, venha até mim.

                      Ela tentou se inclinar, mas prontamente ajustei seus travesseiros. Ela colocou sua mão muito debilmente envolta de meu pescoço,  puxou fracamente meu rosto para perto dela. Virei meu ouvido em direção a sua boca.

                        - Cuidado jovem - disse o curandeiro - A doença pode ser contagiosa.

                          Ignorei seus conselhos, para mim ele mesmo pode te-la envenenado e chamado aquilo de doença. Me foquei nas ultimas palavras dela, a única em quem eu confiava. Ela falou devagar, não como se aquilo fosse tudo o que pudesse fazer, mas como se cada palavra valesse:

                             - Eles virão atrás de você meu filho, cada centavo nosso não deve ir para a coroa, você é esperto ... cof.... cof.... saia do castelo ainda hoje..... no mais tardar amanhã. Nossas riquezas irão pelos tuneis que já lhe mostrei ....cof .... cof.... vá até Cradus, um amigo o espera lá, ele é de confiança, Theus é seu nome ... .... não mostre para ele nosso segredo... Eu te amo meu filho, mais do que qualquer coisa neste mundo... cof ......... esqueça de mim e vá.

                          Me arrependo de não ter chorado naquele dia, se já disse isso antes me perdoe, mas no mundo em que vivo ter o privilegio de chorar é raro. Stefie pareceu curiosa, se ajeitando na cadeira, tentando nos escutar eu acredito. O curandeiro estava na porta, como um cão de guarda, tinha espalhado toda aquela fumaça pelo lugar e o cheiro já estava me incomodando. Levantei e disparei para fora dali, empurrei o curandeiro e abri a porta com certa violência, pude escutar Stefie falando atrás de mim antes de bater a porta:

                         - Janus, sua mãe..........Janus!!!

                       Não escutaria aquela voz por muito tempo. Corri até os jardim, peguei a caixa que minha mãe tinha me dado meses antes e tínhamos escondido no fundo o labirinto de cercas vivas. Era pequena, cabia na palma da mão, mas o que tinha dentro resumia nossa família. Corri mais uma vez até as catacumbas, e pressionei o quatro da esquerda para direita bloco da ultima linha do chão. A parede se desprendeu e pude empurra-la com uma determinada dificuldade, ouvi vozes me chamando ali perto, então agilizei meus passos. Fechei a passagem atrás de mim e a escuridão me tomou.

                           O segredo era as elevações de blocos no chão, as elevações nas paredes tinham pequenos sinais em braile que registravam pequenas mensagens. Eu não tinha altura suficiente para ler todas ali, mas soube que minha família, a família Undergate tinha mais segredos do que gostaríamos de ter. Meu olhos estavam inundados, cada passo que eu dava sentia o peso de tudo que vivi ali, senti o peso de abandonar minha mãe em seu leito de morte, mas eu não tive coragem de esperar o.... fim e tinha muito medo de morrer ali sem ter conquistado nada.

                     Segui por horas até escutar algumas vozes e o som característico do ouro. Abri novamente uma passagem no fundo de um determinado corredor e estava em uma doca escondida embaixo do castelo, os homem que ali estavam se espantaram pela minha chegada, mas já estavam prontos para me recepcionar depois do susto. Eram quatorze homens, todos com espadas e em sua maioria com roupas de plebe, mas um deles usava roupas nobres. Após eles se curvarem a mim esse homem se aproximou:

                                 -Meu senhor - disse ele - Me chamo Neiros, serei seu guardião enquanto o senhor desejar.
                                 
                                  -O qu... o que é isso? - Perguntei, já sabia a resposta, mas minha mente estava em outro lugar no momento.

                                     - Somos sua guarda meu senhor - continuou o homem - Sua escolta para fora desse lugar esquecido pelos deuses.

                                 - Entendo..... Para onde iremos daqui Neiros?

                                  - Para Darna meu senhor, a cidade dos sonhos.
  
 

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Nem perto nem longe

                     Seu coração pulsava rápido, seu suor descia pelo seu rosto e tudo parecia desacelerar, não sabia como fazer aquilo, era sua primeira vez. Enxugou o suor e tentou ter pensamentos positivos "talvez possa dar certo" "Qual o pior que pode acontecer?", mas ele já sabia a resposta desse ultimo. Tudo que tinha feito convergia para aquele momento, cada ação, cada conjectura o tinha estruturado para isso, mas ainda assim não conseguia faze-lo.

                    Havia quatro pessoas na sala, além dele, três mulheres, duas conversando na porta e uma mexendo em seu celular sentada em uma cadeira no canto direito da sala e um homem de pé olhando pela janela. "Ok calma, preciso de um plano, isso.... um plano parece uma boa ideia" não poderia sair pela porta, era perigoso demais, as duas pessoas que estavam ali tinham coisas contra ele, não poderia se dar o luxo de perder sua vida tão facilmente. Pela janela era impossível, estava no terceiro andar e não desejava seus ossos em pó. Poderia pegar o celular da menina para pedir ajuda, mas ela era a mais perigosa, talvez de todas as pessoas dali.

                  Levantou, precisava de ar fresco, o que estava para fazer exigia calma. Abriu a janela e sentiu os olhares se voltando para ele e novamente se sentiu ansioso. Tentou ignorar esse sentimento, mas ele já o tinha dominado, era forte demais. Olhou para fora, viu uma pequena praça ali em baixo e pessoas passeando como se fosse um belo dia, "como elas podem ser tão calmas, meu mundo esta se destroçando aqui" sentiu um pouco do vento e escutou o barulho dos carros na rua logo após a praça. Observou a agitação e fechou os olhos, respirou fundo.

                       - Aê -  disse o homem na outra janela - você tá bem men?

                       - Estou... estou, é só um pequeno mal estar, não se preocupe.

                  As mulheres o olhavam com uma certa preocupação. O rapaz sorriu acenou para todo mundo e disse:
    
                       - Estou bem pessoal, não se preocupem.

                    A menina com celular olhou fixamente para o jovem, ele notou que ela estava um pouco vermelha respiração forte. Era a primeira vez que notou algo na sala além dele mesmo de maneira mais detalhada. A menina levantou-se e se aproximou dele.

                   - Samuel tá tudo bem mesmo? - Disse ela se colocando na frente dele e postando sua mão em sua testa - Você esta quente.....

                  O coração de Samuel parou, travou ali mesmo, já tinha sofrido muito, mas aquele toque o paralisou. Não soube o que falar, por quase trinta segundos viu a boca da menina se movimentar, mas não escutou qualquer som. Orou mentalmente para qualquer deus que lhe pudesse dar coragem para pelo menos abrir a boca. Olhou para sua mochila ali próximo, tinha que pegar o envelope e só ai tudo estaria acabado.

                            - Es..estou bem Sofia - conseguiu finalmente falar - acho que o calor  me fez passar um pouco mal.

                             - Ah... - disse ela - entendo, bem acho que estou indo para casa então.

                             - Ou.... ok
                
                    Sofia guardou seus livros e cadernos em sua bolsa e se prontificou a sair. Deu uma ultima olhada na sala e viu Samuel sentado respirando fundo de olhos fechados. "Então assim será" pensou ela com tristeza. Desceu as escadas com o pesar no coração e as lágrimas carregadas nos olhos, mas sabia que aquele desejo não dependia só dela. Andou até o pátio do colégio e quando sua mente já estava tentando distrai-la sentiu uma mão em seu ombro. Assustou a principio, pois a mão estava tremendo, virou e viu Samuel completamente vermelho, com uma pequena carta na mão.

                       -Me desculpe pela demora - disse ele - leia com carinho, e não importa sua resposta, sempre terei pensamentos positivos sobre você.

               E simplesmente disparou, como se estivesse fugindo da policia. A carta estava com um pequeno perfume de flores do campo, ela adorava aquele cheiro. Observou o rapaz andando rapidamente pelo pátio da escola e agradeceu por aquele dia ser um dia de coragem. Fez um meio sorriso, tentando esconder a outra metade, mas aparentemente não deu certo. Abriu o envelope e começou a ler a carta e então um sorriso singelo tomou seu rosto por vários dias.  

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Solidão de um Deus

                    Tudo começou não com uma grande luz, como todos pensam, mas com um singelo soluço. Diante de todas as coisas que ainda não existem, havia um ser. Agachado, encolhido, com uma expressão triste. Tinha esperado uma eternidade para descansar, esperaria duas se encontrasse algo que lhe apaziguasse da dor de estar só, e ali tinha abaixado para chorar um pouquinho, como era de costume. Suas lagrimas percorriam seu corpo, que alternava-se entre muitas cores, e caíam para o vazio, onde desapareciam, como fogos de artificio.
                     Aquele choro durou muitos dias, e por muitos dias houve luzes e cores, mas aquele que chorava não notou nada disso. Sua dor não o deixava abrir os olhos e perceber que mais uma vez estava só, apenas ele, sozinho por um período que não podemos mais chamar de tempo. Não se lembrava mais de onde veio, era um lugar tão distante que já se perdera. Chamava-o de lugar nenhum, mas se perguntava quando encontraria seu novo lugar.
                     As lágrimas preenchiam o espaço com grandes luzes, e os sons proferidos viraram baladas nos dias vindouros. Porém, foram abafadas pelo choro e pelos berros daquele que as gerou. Tudo ali não parecia fazer sentido, a tristeza corroía o peito dele, não conseguia pensar, ou levantar. Tudo era muito pesado, até mesmo a pálpebra de seu olhos. E então chorou, como se fosse deixar de existir assim que abrisse os olhos. Desejava isso, não desejava mais estar sozinho.
                 As gotas cada vez mais caiam dos olhos dele e, com o fluxo constante, algumas resistiram ao vazio. Elas se condensavam e se aglomeravam em um único ponto, e quando havia demais de si mesma elas explodiam. E no lugar da explosão restavam pequenas esferas, cada uma com cores diferentes. E mesmo com o espetáculo de cores ao redor do pequeno ser, ele se negava ao olhar para frente. Não conseguia sentir mais nada, tentou expurgar toda tristeza para fora, mas não sabia o que tinha ganhado em seu lugar. Ali deitou, no meio do vazio, fez suas ponderações para onde iria dali. Não queria continuar, não para sentir aquilo novamente. No entanto, não viu outra escolha.
                 Abriu os olhos, e pela primeira vez em muitos anos viu algo diferente do preto e branco que estava acostumado. Não conseguia se mover, algo tinha tomado conta dele. Um sentimento que estava familiarizado, não conseguia distinguir se aquilo lhe faria bem ou mal, o chamou de Alegria.  Novamente o choro veio na garganta, mas não queria que ele estragasse tudo, vai-se saber o que esse novo sentimento poderia lhe causar, todas aquelas cores poderiam ir embora se ele resolvesse falar daquilo que era novo.
                  Conseguiu se apoiar em uma das luzes, que apelidou de estrela, levantou-se e observou cada uma delas com um sorriso no rosto. Era uma criança com seus novos brinquedos. Com muito cuidado manejava as estrelas, fazendo-as colidir levemente e pular diante da vastidão do vazio. Corria para lá e para cá aos berros com suas novas parceiras em mãos, não acreditava que podia ser tão feliz. E por um momento contemplou o caminho que tinha caminhado, e viu que ao muito longe outras estrelas haviam se formado, um desejo deixado para trás.
                 Tomou coragem, reuniu suas estrelas como um filho no colo de uma mãe e voltou pelo caminho que tinha veio. Era doloroso ver suas antigas mágoas, mesmo quase todas elas sendo a mesma, mas com uma pitada de dor ou tristeza diferentes. Mas pode ver que da solidão não se gera apenas rancores e pensamentos ruins, viu que aqueles pontos de luz no meio do vazio tinham saído dele para preencher seu ser de algo que chamou de esperança.
               Andou muito, mas percebeu que suas estrelas ficavam vermelhas e explodiam ou desapareciam em estrelas negras sem graça. Não queria que elas sumissem, correu o máximo que pode para reunir todas elas, e cuidar de cada uma. Mas o tempo é cruel e cada um dos pontinhos foi desvanecendo, dando espaço, novamente, àquela escuridão.
                    Olhou para suas mãos, cheias de estrelas mortas, e dessa vez aquele pesar veio sem choro. As abraçou, e as fez promessas de todos os tipos "Vocês vão ficar bem, vou trazer seu brilho de volta" "mais ali na frente sem mais de vocês, vão se alegrar quando chegar lá", mas nenhuma dessas promessas fora cumprida. Olhou para seus braços, as cores variavam entre escuro e cinza, como se traduzissem o que ele sentia.
                    Novamente sentou e dessa vez ficou ali pensando, sem saber o que fazer ou para onde ir. Não queria chorar mais, mesmo que trouxesse aqueles momentos de volta, sabia que o preço fosse alto demais. Olhou novamente para seu corpo, era dele que vinha tudo aquilo, de seu interior. Imaginou as melhores coisas vindas de seu coração, de sua mente. E então, por alguns instantes, entendeu seu papel, entendeu suas criações.
               Botou a mão no peito e sentiu quem era. Empurrou sua mão para alcançar seu coração e sentiu o calor que ele emanava, como um grande sol. Notou ali seus desejos pulsando, mais pareciam ondas, calmas e plenas. Assim retirou seu coração e o fez brilhar, para o vazio e para si mesmo. E em uma fração tão pequena, que não podemos chamar de tempo, uma grande explosão preencheu o nada, e para todos os lados, num espaço infinito, não poderia se dizer que havia um lugar sem luz.
                E o que aconteceu com aquele que criou tudo isso? Não acho que alguém deva saber. Acredito que ele se tornou um com sua criação, ou esteja brincando com algumas estrelas por ai. Só sei que todas as coisas vieram de um desejo, um que move muitos, em muitos lugares, o desejo de ver maravilhas e de ser uma delas. Fomos criados para herdar esse desejo. E devo dizer as coisas nunca mais foram as mesmas.



                                                                                                         Iugo Celbra - Escriba de Noldos